EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA: UM PANORAMA MUNDIAL

Sarah de Almeida Lima*

Os gases de efeito estufa (GEE) são componentes atmosféricos que absorvem parte do calor irradiado pela Terra. A presença desses gases na atmosfera em concentrações adequadas, na verdade, faz com que o nosso planeta tenha temperaturas em média 30 graus (ºC) acima do que teria se estivesse apenas sob influência do aquecimento associado à absorção de luz solar.

Os quatro principais gases de efeito estufa são o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e o vapor d’água. A despeito de o vapor d’água ser o mais abundante entre os GEE, sua curta vida útil na atmosfera da Terra impede que ele seja considerado o principal causador dos impactos negativos relacionados à emissão desenfreada de GEE, impactos esses que têm sido sentidos em todo o planeta principalmente por meio dos eventos climáticos extremos que percorrem todo o globo.

Em contrapartida, o descontrole na emissão de outros GEE, como os citados acima, tem o potencial de intensificar drasticamente as mudanças climáticas que estamos presenciando. O CO2, por exemplo, é o responsável por 75% do aquecimento global terrestre, e é reconhecido como o principal GEE

De fato, o aumento da concentração de CO2 na atmosfera intensifica o efeito estufa, resultando em um desequilíbrio no balanço energético do nosso planeta. Como a Terra sempre recebe, em média, a mesma quantidade de energia solar, o calor fica retido na atmosfera, elevando sua temperatura. Para se ter uma ideia, é como se a energia da explosão de mais de 660 milhões de bombas de Hiroshima fosse armazenada a cada ano para aquecer a Terra, o que ilustra bem a magnitude desse impacto.1

De acordo com Organização das Nações Unidas (ONU), em 2022, as concentrações médias globais de CO2 ultrapassaram em mais de 150% os níveis observados na era pré-industrial (definida para ano de 1750), atingindo um pico de 417,9 ppm (partes por milhão – o número de moléculas do gás por milhão de moléculas de ar). Esse aumento representa uma elevação de 0,5% em relação aos níveis de 2021, que já eram recordes.²

Além disso, as concentrações de CH4 também aumentaram significativamente, alcançando um aumento de 264% em relação aos níveis pré-industriais, resultando em 1.923 ppb (partes por bilhão). Já o N2O, o terceiro gás de efeito estufa mais abundante na atmosfera da Terra, registrou o maior aumento anual entre 2021 e 2022, com um incremento de 0,42%, elevando-se 124% acima dos níveis da era pré-industrial, correspondendo a 335 ppb.¹

Figura 1: Dados de 2022 que incluem dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) de todas as fontes, incluindo mudanças no uso da terra. Elas são medidas em toneladas de dióxido de carbono equivalente. Uma gigatonelada (Gt) equivale a um bilhão de toneladas.³

Em um de seus relatórios, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) destaca que menos da metade das emissões de CO2 permanece na atmosfera, já que o oceano absorve um pouco mais de um quarto dessas emissões e os ecossistemas terrestres, como as florestas, capturam cerca de 30%. Sendo assim, se o nível de CO2 e outros GEE continuar a aumentar nas taxas atuais, a OMM alerta que a temperatura global continuará a subir. Isso ocorrerá mesmo que as emissões sejam rapidamente reduzidas, devido à persistência prolongada do CO2 na atmosfera.2

Deve-se pontuar, também, que todas as atividades humanas emitem gases de efeito estufa, e 73% das emissões globais vêm da queima de combustíveis fósseis. China, EUA e Índia (vide Figura 1) são os maiores emissores, contribuindo com 42,6% das emissões totais, enquanto os 100 países menos populosos somam apenas 2,9%, segundo o WRI (World Resources Institute).¹ 

Um fator crucial a ser considerado, quando se analisa as contribuições de cada país no contexto das mudanças climáticas, é o volume histórico de emissões de GEE. Embora a China atualmente emita mais GEE que os EUA, por exemplo, ela ainda não alcançou o volume histórico de emissão dos norte-americanos. Esse é um dado importante a ser considerado porque o CO2 permanece por séculos na atmosfera e, portanto, países que se industrializaram a mais tempo emitiram ao longo dos anos mais GEE que aqueles que vêm se industrializando nas últimas décadas, como os países em desenvolvimento.

Não obstante, a responsabilidade pelas emissões varia entre países, principalmente por conta do modo de vida de suas populações. De fato, os países mais ricos emitem mais gases de efeito estufa que os mais pobres. Globalmente, as emissões dos 1% mais ricos equivalem a 66% da emissão dos mais pobres.3 Segundo o Relatório sobre a Lacuna de Emissões do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), os 20 países mais ricos (G20) são responsáveis por 76% das emissões globais, enquanto os países menos desenvolvidos contribuem com 3,8% e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento com menos de 1%.³

Dessa maneira, fica fácil perceber que a redução das emissões de GEE é a principal medida para frear a crise climática nas próximas décadas. Uma nova pesquisa conduzida por uma equipe internacional de cientistas, liderada pelos pesquisadores do Instituto de Pesquisa Mercator sobre Bens Comuns Globais e Mudança Climática (MCC), mostra que os planos atuais dos países para remover CO2 da atmosfera não serão suficientes para cumprir o limite de aquecimento de 1,5 ºC estabelecido no Acordo de Paris.¹

Segundo o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, apesar dos alertas da comunidade científica e dos relatórios extensos e inúmeras conferências sobre o clima, ainda estamos seguindo na direção errada. As concentrações atuais de GEE indicam que as temperaturas aumentarão além das metas do Acordo de Paris até o final do século, resultando em condições climáticas extremas, derretimento do gelo encontrado nos polos do planeta, aumento do nível do mar e aquecimento e acidificação dos oceanos. Nota-se, portanto, que isso elevará significativamente os custos socioeconômicos e ambientais nas décadas que virão.1

Autora:

*Sarah de Almeida Lima é aluna de Engenharia de Produção da UEM e bolsista  de Iniciação Tecnológica (Fundação Araucária) do NAPI EZC. Desenvolve o projeto intitulado  “Estudo comparativo entre diferentes fontes de energia renovável”, sob a orientação do Prof. Dr. Ivair Aparecido dos Santos, docente do DFI/UEM.

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