Bandeiras Tarifárias: entenda como elas afetam sua conta de luz

Lincon Vinicius Mendes Pereira e Luiz Fernando Cotica *

O sistema de bandeiras tarifárias, implementado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), teve início em Janeiro de 2015. Esse mecanismo, desde então, se tornou crucial para sinalizar aos consumidores a oscilação dos custos de geração de energia elétrica no Brasil. A divisão da matriz energética brasileira explica as causas dessa variação do custo de energia elétrica, isso porque, mais da metade da geração é proveniente de usinas hidrelétricas (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2025), que estão suscetíveis a variações dos níveis de reservatórios devido ao regime de chuva em cada estação do ano.

Nesse contexto, quando as condições de geração são menos favoráveis, ocorre o acionamento das usinas termelétricas para suprir a demanda energética, entretanto, os custos de operação das mesmas é mais elevado, isso faz encarecer o valor final que o consumidor paga às concessionárias de energia. Ou seja, as bandeiras tarifárias surgem como um indicador dessas condições, alertando o consumidor sobre a necessidade de ajustar seu perfil de consumo, a fim de reduzir o valor de sua conta de luz. 

Este artigo tem como objetivo desmistificar o funcionamento das bandeiras tarifárias, seus diferentes tipos, o histórico de acionamento e os impactos que elas geram no dia a dia dos brasileiros. Utilizaremos dados e análises para proporcionar uma compreensão clara e aprofundada sobre este importante componente da fatura de energia elétrica.

O que são as Bandeiras Tarifárias?

As bandeiras tarifárias são parâmetros que refletem as condições de geração de energia elétrica no Brasil. Elas foram criadas com o intuito de tornar mais transparente o custo da energia para o consumidor final, que varia de acordo com os níveis dos reservatórios das hidrelétricas e consequentemente a necessidade de acionamento das usinas termelétricas. O sistema de bandeiras tarifárias são divididos em cores, cada uma com seu significado e patamar de custo:

  • Bandeira Verde: Condições favoráveis de geração de energia, então a tarifa não sofre acréscimos;
  • Bandeira Amarela: Condições de geração menos favoráveis. Há um acréscimo moderado na tarifa;
  • Bandeira Vermelha – Patamar 1: Condições mais custosas de geração. O acréscimo na tarifa é maior;
  • Bandeira vermelha- Patamar 2: Condições ainda mais custosas. O acréscimo na tarifa é o mais elevado;
  • Bandeira Escassez Hídrica: Uma tarifa extraordinária adotada em períodos de severa seca, como ocorreu entre setembro de 2021 e abril de 2022. Devido à sua especificidade, esta bandeira é geralmente tratada à parte nas análises históricas.

Bandeira tarifária

Custo adicional para cada 100 kWh consumido

Verde

R$ 0,00

Amarela

R$ 1,885

Vermelha – Patamar 1

R$ 4,463

Vermelha – Patamar 2

R$ 7,877

Tabela 1 – Custos individuais para cada bandeira tarifária em agosto de 2025

O acionamento das bandeiras é realizado mensalmente pela ANEEL, com base em critérios regulatórios que consideram variáveis como o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) e o risco hidrológico. Cada bandeira acarreta em um valor adicional, especificado pela Tabela 1, porém, é necessário destacar que esses valores podem ser ajustados pela ANEEL a qualquer momento. 

Histórico e Impacto das Bandeiras Tarifárias

Desde sua implementação em 2015, as bandeiras tarifárias têm sido um reflexo direto das condições hídricas e da necessidade de acionamento de termelétricas no Brasil. A variação entre as diferentes bandeiras ao longo do tempo demonstra a dinâmica do setor elétrico e seus impactos na economia e no bolso do consumidor. 

Figura 1 - Evolução das bandeiras Tarifárias ao longo do tempo Fonte: Atlas da Energia do NAPI EZC (2025)

A Figura 1 foi obtida através dos dados disponibilizados pela ANEEL no portal de dados abertos (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2025), onde inúmeros conjuntos de dados são liberados gratuitamente e de acesso público. A partir do histórico de bandeiras tarifárias, é possível analisar possíveis padrões sazonais de acionamento de cada bandeira, uma vez que, o nível de reservatórios das usinas hidrelétricas está interligado com o regime de chuvas e as estações do ano. 

Figura 2 - Distribuição das bandeiras tarifárias por mês Fonte: Atlas da Energia do NAPI EZC (2025)

Ao observarmos a Figura 2, fica claro que as bandeiras tarifárias seguem um certo ritmo sazonal ao longo do ano. A bandeira verde, sinal de que as condições de geração estão favoráveis, aparece em todos os meses, mas tende a ser mais comum entre abril e outubro, justamente quando os reservatórios das hidrelétricas costumam estar em melhor situação após o período chuvoso.

A bandeira amarela surge de forma mais dispersa, ocorrendo em quase todos os meses, mas com maior frequência entre março e novembro. Ela funciona como um alerta: a situação ainda não é crítica, mas os custos de geração começam a subir.

Já as bandeiras vermelhas, especialmente a Vermelha Patamar 2, que representa o cenário mais caro para o consumidor, têm um padrão mais concentrado. Elas aparecem principalmente entre junho e outubro, meses tradicionalmente mais secos, quando a produção de energia depende mais das termelétricas, encarecendo o custo.

Figura 3 - Distribuição das bandeiras tarifárias por estação do ano Fonte: Atlas da Energia do NAPI EZC (2025)

Em adição, a Figura 3 faz uma distribuição das bandeiras tarifárias de acordo com as estações do ano. A partir dessa figura, é possível perceber uma maior concentração da bandeira Vermelha Patamar 2 ao longo do inverno e primavera, reforçando a relação dos períodos mais secos com o aumento dos custos de geração de energia. 

Essas variações sazonais das bandeiras tarifárias têm impactos diretos no orçamento das famílias e no planejamento financeiro das empresas. Durante períodos de bandeiras amarela ou vermelha, mesmo mantendo o mesmo padrão de consumo, o valor da conta de luz aumenta consideravelmente devido aos acréscimos tarifários. Isso significa que meses de maior restrição hídrica e dependência de termelétricas tendem a pressionar o custo da energia, afetando desde despesas domésticas até o preço final de produtos e serviços. Para o consumidor, é fundamental compreender essa sazonalidade para saber quando é a hora certa de adotar medidas preventivas, a fim de reduzir o consumo de energia e, consequentemente, o gasto mensal com energia elétrica.

O futuro das Bandeiras Tarifárias

O debate sobre a evolução das bandeiras tarifárias é constante. Embora esse sistema já esteja consolidado a alguns anos, ainda não é um sistema perfeito, pois desconsidera outros fatores que podem estar relacionados com o aumento dos custos de geração de energia elétrica. Atualmente, para o consumidor comum, a tarifa adicional imposta pelas bandeiras tarifárias está apenas relacionada com o consumo total de energia, porém, já existe uma discussão sobre implementar um sistema de tarifas horárias, apesar da ideia ainda não estar consolidada.

A implementação de tarifas horárias está baseada na ideia de que os custos de geração de energia não são constantes ao longo do dia. Isso é verdade, pois, ao longo das horas, tanto o consumo quanto a geração tem variações. Nesse contexto, nas partes do dia em que ocorre um maior consumo de energia (normalmente das 17h até 21h), também pode ser necessário acionar as termelétricas para suprir a demanda daquele momento. Além disso, a oferta de energia das usinas fotovoltaicas só ocorre durante o dia, portanto, durante a noite, pode ser necessário o uso de outras fontes. 

O principal desafio para a implementação desse modelo de tarifação é a simplicidade dos quadros de medição residenciais, que não têm conectividade direta com a internet e não marcam o consumo por hora, mas sim, apenas o consumo de energia total. Contudo, um modelo semelhante de tarifação horária é usado para cobrar consumidores de maior porte, geralmente indústrias ou empresas, ou seja, não é um modelo inviável.

Estratégias para reduzir o peso das bandeiras tarifárias: 

Uma das formas mais eficazes de reduzir o impacto das bandeiras tarifárias a longo prazo é diversificar a matriz energética brasileira. Atualmente, a geração elétrica depende fortemente das hidrelétricas, que são sensíveis às variações climáticas e ao regime de chuvas. Em períodos de seca, essa dependência leva ao acionamento de termelétricas, cuja energia é mais cara e poluente, fator que contribui diretamente para a adoção de bandeiras tarifárias mais onerosas. Ao ampliar a participação de fontes como solar, eólica e biomassa, o sistema elétrico ganha resiliência e maior previsibilidade de custos, reduzindo a necessidade de acionar fontes caras em momentos críticos. Essa diversificação não elimina o sistema de bandeiras, mas pode tornar menos frequente o acionamento das mais custosas, beneficiando tanto o consumidor quanto o meio ambiente.

REFERÊNCIAS

1 Atlas da Energia do NAPI EZC. Bandeiras tarifárias. Disponível em: https://napiezc-science.streamlit.app/Bandeiras%20Tarif%C3%A1rias. Acesso em: 6 ago. 2025.

2 Dados Abertos ANEEL. Bandeiras tarifárias. Disponível em: https://dadosabertos.aneel.gov.br/dataset/bandeiras-tarifarias. Acesso em: 15 jan.. 2025.

3 NOVA ENERGIA. Bandeiras tarifárias horárias: o futuro da precificação da energia no Brasil. Nova Energia, 9 abr. 2025. Disponível em: https://www.novaenergia.com.br/blog/bandeiras-tarifarias-horarias-o-futuro-da-precific/. Acesso em: 6 ago. 2025.

4 CLARKE ENERGIA. Como as bandeiras tarifárias afetam empresas no Brasil. Clarke Energia, 21 ago. 2024. Disponível em: https://clarke.com.br/post/bandeiras-tarifarias-nas-empresas/. Acesso em: 6 ago. 2025.

5 SCHNEIDER ELECTRIC. Bandeiras tarifárias: perspectiva do consumidor. 2014. Disponível em: https://blog.se.com/br/gestao-de-energia/2014/10/03/bandeiras-tarifarias-perspectiva-consumidor/. Acesso em: 6 ago. 2025.

6 EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA – EPE. Matriz energética e elétrica. ABCDEnergia. Disponível em: https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica. Acesso em: 6 ago. 2025.

Autor:

Lincon Vinicius Mendes Pereira, bolsista do NAPI EZC. Sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Fernando Cotica.

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