1. Crescimento Íon a Íon: Os íons precursores reagem diretamente na superfície do substrato, formando o filme camada por camada. Este é o mecanismo preferencial para a obtenção de filmes de alta qualidade e boa aderência.
A busca por fontes de energia limpa e renovável tem impulsionado o desenvolvimento de tecnologias inovadoras no campo da energia solar. As células solares, dispositivos capazes de converter diretamente a luz do sol em eletricidade, são elementos fundamentais nesse contexto. Entre as diversas técnicas de fabricação de filmes finos para células solares, a Deposição de Banho Químico (CBD, do inglês Chemical Bath Deposition) [1-3] destaca-se por sua simplicidade, baixo custo e capacidade de produzir filmes em grandes áreas. Essa técnica, realizada em solução aquosa a baixas temperaturas, tem se mostrado promissora para a produção de camadas semicondutoras essenciais em diferentes tipos de células solares de filmes finos. Este artigo tem como objetivo apresentar um panorama da técnica CBD, seus princípios fundamentais e os principais fatores que influenciam a qualidade e o desempenho das camadas depositadas, impactando diretamente a eficiência das células solares resultantes [4-5].
Princípios da Deposição de Banho Químico (CBD)
A deposição de banho químico consiste em uma técnica acessível e de fácil execução, utilizada para produzir filmes finos semicondutores. O processo envolve a imersão de um substrato (onde o filme será depositado) em uma solução aquosa que contém íons precursores do material a ser depositado [4]. A formação do filme ocorre por meio de uma reação química controlada na solução, que resulta na precipitação lenta e homogênea dos íons sobre a superfície do substrato.
Basicamente, a solução de CBD é composta por:
O mecanismo de crescimento do filme pode ocorrer por duas vias principais:
1. Crescimento Íon a Íon: Os íons precursores reagem diretamente na superfície do substrato, formando o filme camada por camada. Este é o mecanismo preferencial para a obtenção de filmes de alta qualidade e boa aderência.
2. Crescimento por Aglomeração de Partículas: Partículas do material são formadas na solução (precipitação homogênea) e, subsequentemente, depositam-se na superfície do substrato. Esse mecanismo pode resultar em filmes com maior rugosidade e menor densidade.
O desempenho do processo de Deposição de Banho Químico depende do controle rigoroso dos parâmetros da solução, tais como temperatura, pH, concentração dos íons precursores e do agente complexante[4]. Esses fatores determinam a cinética da reação e favorecem o crescimento controlado, íon a íon, resultando em filmes mais homogêneos e de melhor qualidade. Uma das principais vantagens do método é a baixa temperatura de operação, geralmente inferior a 100 °C, o que permite a utilização de diferentes tipos de substratos e reduz significativamente o consumo de energia.
A técnica de Deposição de Banho Químico (CBD) apresenta diversas vantagens que a tornam atraente para a fabricação de células solares de filmes finos, especialmente em escala industrial:
Vantagens [6]:
Baixo Custo: Comparada a outras técnicas de deposição de filmes finos, como a deposição a vácuo, a CBD é significativamente mais econômica, pois não requer equipamentos complexos nem condições de alto vácuo.
Simplicidade: O processo é relativamente simples de implementar e controlar, o que facilita sua escalabilidade para a produção em massa.
Baixa Temperatura de Processo: A deposição ocorre em temperaturas amenas (geralmente entre 50°C e 90°C), o que possibilita o uso de substratos flexíveis e sensíveis ao calor, como plásticos.
Deposição em Grandes Áreas: A CBD é facilmente adaptável para cobrir grandes áreas de substrato de maneira uniforme, o que é fundamental para a produção de módulos solares de grande porte.
Boa aderência e uniformidade: com o controle adequado dos parâmetros, é possível obter filmes com boa aderência ao substrato e excelente uniformidade de espessura.
Controle da Espessura do Filme: A espessura do filme pode ser controlada por meio da variação do tempo de deposição, da concentração dos precursores e da temperatura.
Segurança: Geralmente, os produtos químicos utilizados são menos tóxicos do que aqueles empregados em outras técnicas, e o processo não envolve gases perigosos nem altas pressões.
Desvantagens [7]:
Controle Preciso dos Parâmetros: Pequenas variações na temperatura, no pH ou na concentração dos reagentes podem afetar significativamente a qualidade e as propriedades do filme.
Resíduos Químicos: O processo gera efluentes líquidos que precisam ser tratados adequadamente, o que pode aumentar os custos de produção e suscitar preocupações ambientais.
Crescimento por Aglomeração de Partículas: Caso as condições não sejam otimizadas, pode ocorrer a formação de partículas na solução que se depositam no substrato, resultando em filmes com maior rugosidade e menor densidade, o que pode comprometer o desempenho da célula solar.
Limitação de Materiais: Embora versátil, a CBD é mais adequada para a deposição de sulfetos, óxidos e selenetos metálicos, sendo menos aplicável a outros tipos de materiais semicondutores.
Eficiência de Conversão: Embora a CBD seja excelente para a deposição de camadas específicas, como a camada tampão de CdS, a eficiência das células solares completas fabricadas exclusivamente por CBD em todas as camadas ainda pode ser inferior àquela obtida por técnicas mais sofisticadas, porém mais onerosas.
Fatores que Influenciam e Aplicações em Células Solares
O sucesso da técnica de Deposição de Banho Químico (CBD) na fabricação de filmes finos para células solares depende criticamente do controle de diversos fatores[4]. A otimização desses parâmetros é essencial para garantir a qualidade do filme e, consequentemente, a eficiência do dispositivo fotovoltaico:
Fatores que Influenciam o Processo CBD:
A técnica CBD é amplamente utilizada na fabricação de camadas específicas em células solares de filmes finos, especialmente como camada tampão (buffer layer) ou camada de janela (window layer). As aplicações mais comuns incluem:
A capacidade da CBD de produzir filmes finos de alta qualidade, a baixo custo e em grandes áreas torna essa técnica indispensável para a viabilização comercial de diversas tecnologias de células solares de filmes finos, contribuindo para a redução do custo da energia solar.
A técnica de Deposição de Banho Químico (CBD) constitui um dos métodos mais relevantes para a fabricação de células solares de filmes finos, destacando-se por sua simplicidade, baixo custo e potencial de escalabilidade. A possibilidade de operar em baixas temperaturas, aliada à capacidade de recobrir grandes áreas de forma uniforme, torna a CBD particularmente vantajosa para aplicações industriais, contribuindo de maneira significativa para a redução dos custos de produção de dispositivos fotovoltaicos.
Apesar dos desafios associados ao controle rigoroso dos parâmetros experimentais — como pH, temperatura e concentrações dos precursores —, bem como à gestão dos resíduos gerados, os avanços contínuos em pesquisa e desenvolvimento têm resultado em melhorias significativas na qualidade dos filmes depositados. Esses progressos refletem-se diretamente no aumento da eficiência das células solares produzidas por esse método.
Entre as aplicações mais relevantes, destaca-se o uso da CBD na deposição de camadas tampão, como o sulfeto de cádmio (CdS), além de óxidos metálicos aplicados em células de perovskita, evidenciando seu papel estratégico no avanço das arquiteturas fotovoltaicas emergentes.
Com a crescente demanda global por fontes renováveis de energia, a CBD consolida-se como uma técnica de grande potencial para a democratização da energia solar, representando uma ferramenta essencial no desenvolvimento de tecnologias fotovoltaicas mais eficientes, acessíveis e sustentáveis. O contínuo aperfeiçoamento desse processo constitui um passo decisivo para a construção de um futuro energético mais limpo e resiliente.
REFERÊNCIAS
[1] J.K. Dongre, M. Ramrakhiani, J. Alloys Compd. 487 (2009) 653.
[2] S.V. Borse, S.D. Chavhan, R. Sharma, J. Alloys Compd. 436 (2007) 407.
[3] R. Mendoza-Pérez, J. Sastre-Hernández, G. Contreras-Puente, O. Vigil-Galán, Sol. Energy Mater. Sol. Cells 93 (2009) 79.
[4] A. I. Oliva, I.J. González-chan, P. E. Várguez, A.I. Trejo-Ramos, A.I Oliva-Avilés. Surface Engineering. 38 (2022) 907.
[5] B. A. Ezekoye, P. O. Offor, V. A. Ezekoye, F. I.Ezema. 2 (2003) 452.
[6] https://pt.kindle-tech.com/faqs/what-is-cbd-chemical-deposition
[7] https://pt.kindle-tech.com/faqs/what-are-the-disadvantages-of-chemical-bath-deposition
[8] N. Romeo, A. Bosio, V. Canevari, A. Podesta. 77 (2004) 795.
Autor:
Denise Alanis, realizada estudos sob orientação do prof. dr. Luiz Fernando Cótica