Fatores que Influenciam a Adoção da Energia Solar no Brasil

Sarah de Almeida Lima*

A expansão acelerada da geração de eletricidade fotovoltaica, integrada ao meio ambiente e à sociedade, desempenha um papel essencial no desenvolvimento sustentável. As fontes renováveis de energia são fundamentais para a transição rumo a uma economia mais inclusiva e ambientalmente eficiente, além de contribuírem para desafios globais como segurança energética, redução da pobreza e mudanças climáticas.

A luz e o calor do Sol representam a fonte de energia mais abundante disponível na Terra, que recebe aproximadamente 174 petawatts (PW) de radiação solar, um valor muito superior ao das demais fontes de energia e ao consumo humano. Quase 30% disso é refletido de volta ao espaço e o restante, todos os anos, é absorvido pela atmosfera, nuvens, oceanos e solo.¹

Figura 1 - Incidência solar média diária no Brasil. Fonte: : CPTEC e INPE (2016).

O semiárido brasileiro, em especial, possui uma localização estratégica para a
captação de energia solar e por estar próximo ao Equador, onde a incidência solar é muito intensa (vide Figura 1). Além disso, nessa região a radiação solar mantém-se relativamente constante ao longo do ano, favorecendo uma geração energética mais estável e eficiente.²

No Brasil, a matriz energética é predominantemente composta por fontes não
renováveis, que representam 50,9% da Oferta Interna de Energia (OIE) em 2023,
enquanto as fontes renováveis correspondem a 49,1%. Dentro desse cenário, a
energia solar contribuiu com 1,7% da OIE, mas vem experimentando um
crescimento muito robusto nos últimos anos (em 2014, representava apenas 0,2% da OIE).³

Esse avanço reflete o crescente uso de tecnologias solares no país, cuja adoção por parte de consumidores e empresas é influenciada por fatores de ordem técnica, ambiental, econômica, social e cultural, que podem representar entraves ou facilitadores para o crescimento do setor, que possui grande potencial de expansão.

Fatores Técnicos

É relevante pontuar que, atualmente, existem dois principais sistemas de conexão da geração fotovoltaica à rede de distribuição de energia elétrica no Brasil: o sistema on-grid e o sistema off-grid. As características técnicas próprias de cada sistema são fatores que influenciam a escolha do modelo de geração pelo consumidor, além das suas necessidades em relação à disponibilidade, estabilidade e ao custo da energia consumida.

Por um lado, os sistemas on-grid são conectados diretamente à rede de distribuição e trocam o excedente de energia gerado durante o dia por créditos para uso futuro (abatendo ao final do mês esses créditos na conta do consumidor). Desse modo, nos momentos em que há consumo de energia elétrica, mas não há geração solar, a rede de distribuição fornece a energia, porém esta é compensada pelos créditos da concessionária devido ao excedente produzido. Nesse modelo, os custos com energia elétrica para os consumidores podem reduzir significativamente, atingindo até 95%.⁴

Por outro lado, os sistemas off-grid não são conectados diretamente à rede de distribuição e o excedente energético é armazenado em baterias, o que proporciona maior autonomia em relação à rede de distribuição de energia elétrica. Além disso, as baterias podem fornecer energia mesmo à noite e em caso de  apagões, garantindo maior estabilidade da rede ao consumidor final. Essas vantagens do sistema off-grid são contrabalançadas pelo custo alto das baterias, que possuem uma vida útil de 5 a 15 anos.

Ainda em relação aos fatores técnicos, os inversores são equipamentos essenciais à instalação de um sistema de geração de energia solar, uma vez que convertem a energia elétrica, de corrente elétrica contínua (CC), gerada pelos painéis, em corrente alternada (CA), utilizada pela rede de distribuição e no consumo final. A depender da topologia do sistema, diversos modelos de inversores podem ser escolhidos, com modelos para sistemas on-grid e off-grid, e ainda modelos híbridos que permitem operar nos dois tipos de sistema. Além dos diferentes modelos, a escolha da potência do inversor também pode ser um fator de influência na opção por um sistema fotovoltaico, uma vez que o consumidor pode obter um inversor sobredimensionado ao sistema atual, com o objetivo de uma futura expansão.

Fatores Ambientais

Em comparação às fontes fósseis, a energia fotovoltaica apresenta a vantagem de ser inesgotável e constantemente renovada. Seu perfil sustentável a torna uma alternativa mais ecológica, com menor emissão de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa (GEE). 

Nesse viés, uma pesquisa realizada pela Nature Energy, determinou a quantidade de GEE emitidos ao longo do ciclo de vida completo de diversas fontes de eletricidade até 2050. Cada kWh (quilowatt/hora) de eletricidade gerada pela solar teria uma pegada de carbono equivalente a 6 gramas de CO2 (gCO2e/kWh).

Dessa forma, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a energia solar no Brasil já evitou a emissão de mais de 50 milhões de toneladas de CO₂ na atmosfera. No primeiro semestre do ano de 2024, mais de 5,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono deixaram de ser lançadas no meio
ambiente. Ainda é destacado que a energia fotovoltaica é uma das principais aliadas na descarbonização do planeta, pois seu processo de geração emite quantidades
mínimas de gases poluentes.

Nesse sentido, o incentivo ambiental pode representar um grande fator de influência positiva na adoção de sistemas de geração, haja vista a crescente preocupação com questões climáticas, possibilitando também mais incentivos governamentais para essa adoção. Além disso, a redução significativa das emissões de gases de efeito estufa reforça a importância da energia fotovoltaica como uma solução viável para a transição energética sustentável.

Fatores Econômicos

A implementação de sistemas solares fotovoltaicos demanda investimentos em equipamentos como painéis solares, inversores, cabos e estruturas de fixação, além da aquisição de terrenos no caso de fazendas solares. Assim, a seleção de locais com elevada incidência solar é um fator determinante para otimizar a geração de energia e reduzir os custos por unidade produzida.⁸  O Brasil se destaca neste quesito, por possuir muitas regiões de sol abundante, como ilustrado na Figura 1, com especial ênfase ao semi-árido brasileiro.

Além disso, a tarifa de energia solar gerada em sistemas fotovoltaicos pode beneficiar-se do sistema de compensação de créditos energéticos estabelecido pela Resolução Normativa 482/2012 da ANEEL, que trata da Microgeração e da Minigeração Distribuídas de Energia Elétrica (MMGD) e do Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE), inovações que aliam economia financeira, consciência socioambiental e autossustentabilidade. Esse sistema permite que a energia excedente gerada seja injetada na rede elétrica e compensada na fatura de energia elétrica dos meses subsequentes e de outras residências que não estão conectadas diretamente ao local de geração da energia. Além disso, a liberalização do mercado de energia, que possibilita a negociação direta entre consumidores e produtores, amplia as oportunidades comerciais para empreendimentos no setor solar. Essas possibilidades são um importante fator econômico positivo para a adoção por parte de muitos brasileiros aos sistemas de energia solar.⁸ 

Por outro lado, os investimentos financeiros são fundamentais para a viabilização dos projetos solares no Brasil. Linhas de crédito como o Finame do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), destinada à aquisição de equipamentos de fabricação nacional, incluindo sistemas de energia solar, oferece condições financeiras atrativas, como taxas de juros a partir de 0,75% ao ano, dependendo do tipo de operação e porte do cliente, prazos flexíveis de até 10 anos, com carência de até 2 anos, e cobertura de até 100% para equipamentos e serviços de instalação, desde que sejam novos e credenciados no sistema FINAME. Essas condições tornam o FINAME uma opção vantajosa para quem deseja investir em energia solar no Brasil.

Além disso, os leilões de contratação de longo prazo garantem receitas obtidas e mitigam os riscos financeiros, fortalecendo a sustentabilidade econômica dos empreendimentos no setor. ⁸ Deve-se ressaltar que os custos operacionais de sistemas solares são relativamente baixos, sendo as manutenções preventivas, como a limpeza dos painéis, responsáveis por despesas anuais moderadas, estimadas em aproximadamente R$30,00 por placa. A pouca demanda por manutenção é um dos fatores que reforçam a viabilidade econômica dessa tecnologia. ⁸ 

Também é importante destacar, por fim, que o acesso à tecnologia fotovoltaica pela sociedade é impulsionado por investimentos em pesquisa e desenvolvimento no setor. Como resultado de inovações tecnológicas, houve uma expressiva redução nos preços dos equipamentos para consumidores, empreendedores e produtores rurais no Brasil. Em 2023, os módulos fotovoltaicos ficaram aproximadamente 50% mais baratos em comparação ao ano anterior. Essa queda foi favorecida pelo fortalecimento das relações comerciais internacionais, pelo aprimoramento do ambiente de negócios no país e pelo aumento significativo da capacidade produtiva global desses equipamentos.¹⁰

Fatores Sociais

Nos últimos anos, o setor de energia renovável tem se consolidado como um importante gerador de empregos. Entre 2019 e 2022, a empregabilidade na área cresceu 5%, impulsionada por segmentos como energia solar, eólica, veículos elétricos, bombas de calor e mineração de minérios críticos.11 No Brasil, a energia solar fotovoltaica se destaca nesse cenário, com a criação de 979,7 mil empregos desde 2012 até 2023.¹¹

Nesse cenário, o setor de energia renovável alinha a sustentabilidade e geração de empregos qualificados, com o desafio de capacitar profissionais e diversificar a força de trabalho, ampliando a inclusão, como demonstra o acordo de cooperação para capacitação profissional em energias renováveis firmado pelo Governo do Ceará, por exemplo, que visa qualificar a população para as demandas desse setor e prevê a implantação de laboratórios especializados e formação técnica alinhada às inovações do mercado. Espera-se que o projeto impulsione a inclusão socioeconômica, o empreendedorismo e a criação de novas ocupações.¹¹

Ou seja, além de essencial para o meio ambiente, a expansão dessas iniciativas representam uma grande oportunidade no âmbito social, com a possibilidade de ampliação de postos de trabalho e de capacitação técnica para a população, o que pode ser um incentivo à adoção da energia solar, considerando também a capacidade brasileira de geração desse tipo de energia.

Fatores Culturais

Nota-se que a expansão da capacidade instalada da Micro e Minigeração Distribuída (MMGD) possui grande dependência regional e cultural, haja vista que ocorreu principalmente na região Centro-Sul do Brasil, impulsionada pelo crescimento da energia solar em estados como Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. O protagonismo dos painéis solares na matriz de geração distribuída tem sido o principal fator para o ritmo acelerado de crescimento do setor no país. ¹²

A crescente adesão da população brasileira à energia solar demonstra sua alta variabilidade cultural. O expressivo crescimento de quase 68% da MMGD, de 18.423 GWh em 2022 para 30.950GWh em 2023, com a energia solar fotovoltaica representando 96,3% desse segmento, indica que os brasileiros não apenas reconhecem os benefícios dessa fonte renovável, mas também estão dispostos a adotá-la em larga escala. Além disso, a fonte solar térmica, utilizada para o aquecimento de água em sistemas de coletores abertos, fechados e de tubo a vácuo, atingiu 12.484 GWh equivalentes em 2023, refletindo um crescimento contínuo ao longo dos anos. O setor residencial foi o principal consumidor, representando 79,7% do total, seguido pelo setor comercial, com 17,3%, e pela indústria, com menos de 3% (vide Figura 2).¹²

Figura 2 - Consumo da fonte solar térmica no Brasil

Esses comportamentos refletem uma mudança cultural em direção à sustentabilidade, impulsionada pela busca por independência energética, redução de custos e maior consciência ambiental. Além disso, a predominância do setor residencial como principal consumidor da energia solar térmica reforça a aceitação e confiança da população nessa tecnologia, consolidando sua viabilidade cultural no Brasil.

Referências

1 SCIENCE WORLD. Solar energy. 2025. Disponível em: <https://www.scienceworld.ca/resource/solar-energy/>.

2 DANTAS, Stefano Giacomazzi. Oportunidades e desafios da geração solar fotovoltaica no semiárido do Brasil. Brasília, DF: IPEA, 2020. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9680/1/TD_2541.pdf

3 BRASIL. Empresa de Pesquisa Energética – EPE. Balanço Energético Nacional: Síntese 2024. Rio de Janeiro, 2024. Disponível em:<https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-819/topico-715/BEN_S%C3%ADntese_2024_PT.pdf>.

4 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA SOLAR (ABSOLAR). Armazenamento de energia solar no Brasil: uma alternativa sustentável de autoprodução. 2025. Disponível em: <https://www.absolar.org.br/noticia/armazenamento-de-energia-solar-no-brasil-uma-alternativa-sustentavel-de-autoproducao-administrador/>

5 CARDOSO, Paloma Couto Neiva; SCHETTINO, Stanley; MINETTE, Luciano José; SORANSO, Denise Ransolin.Paradigmas da sustentabilidade ambiental na geração de energia fotovoltaica . DELOS: Desarrollo Local Sostenible, Curitiba, v. 17, n. 52, p. 01-23, 2024. Disponível em: <https://ojs.revistadelos.com/ojs/index.php/delos/article/download/1256/1051/2127>.

6 NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. A energia solar é um caminho para reduzir o aquecimento global. 2022. Disponível em: <https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2022/04/a-energia-solar-e-um-caminho-para-reduzir-o-aquecimento-global>.

7 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA SOLAR (ABSOLAR). Energia solar já evitou 50 milhões de toneladas de CO2 no Brasil. 2025. Disponível em: <https://www.absolar.org.br/energia-solar-ja-evitou-50-milhoes-de-toneladas-de-co2-no-brasil/>.

8 BATISTA, Washington André; SOUZA, Antônio Artur de; FONSECA, Simone Evangelista; SILVA,Sabrina Espinele da. Energias sustentáveis: a viabilidade econômico-financeira da utilização de energia solar no Brasil. 2025. Disponível em: <https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/58408/2/Energias%20sustent%C3%A1veis.pdf>.

9 BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES). Produto de financiamento. 2025. Disponível em:<https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/produto/!ut/p/z1/fY5BC4JAEIXv_oouHmWspLpGByWEkgh0LzHqllM6a-4a_vxUrG5d5j2Y9z0eCGs2syyIe-NdD4KgvFFNzSkGEuIIRGryzryd8HWm4d-OF-40XlzjE6bYHnYebAfwR8_NPwn4omY4l-BhO7Pp9iCyBQb2RmIU86lvhBrQ6bNxkW2W6hK2u6VGDkjrCQbpW23JC5QO3Wjbg1Wvbu2nA-scMZ4pV0UqROORk2qWIF9UMkbwpnYiA!/>

10 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA SOLAR (ABSOLAR). A evolução tecnológica fotovoltaica e seus benefícios ao Brasil. 2025. Disponível em: <https://www.absolar.org.br/artigos/a-evolucao-tecnologica-fotovoltaica-e-seus-beneficios-ao-brasil/>

11 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA SOLAR (ABSOLAR). Empregos crescem no mercado de energia renovável, mas falta mão de obra qualificada. 2025. Disponível em: <https://www.absolar.org.br/noticia/empregos-crescem-no-mercado-de-energia-renovavel-mas-faltamao-de-obra-qualificada/>.

12 BRASIL. Empresa de Pesquisa Energética – EPE. Balanço Energético Nacional: Síntese 2024. Rio de Janeiro, 2024. Disponível em: <https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-819/topico-715/BEN_S%C3%ADntese_2024_PT.pdf>

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Autora:

Sarah de Almeida Lima é aluna de Engenharia de Produção da UEM e bolsista de Iniciação Tecnológica (Fundação Araucária) do NAPI EZC. Desenvolve o projeto intitulado “Estudo e determinação dos fatores que influenciam a adoção de diferentes soluções em geração e coleta de energia limpa ”, sob a orientação do Prof. Dr. Ivair Aparecido dos Santos, docente do DFI/UEM.

Essa pesquisa
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