Fatores que influenciam a adoção da energia solar: um panorama mundial.

Sarah de Almeida Lima*

A radiação solar é um recurso abundante e gratuito, disponível em diversos graus em qualquer lugar do planeta, oferecendo uma oportunidade única para a produção de energia limpa e sustentável. As usinas de energia solar fotovoltaica convertem essa radiação em eletricidade e são uma solução promissora para a geração de energia elétrica. Em um contexto de mudanças climáticas globais e crescente busca por alternativas mais sustentáveis, a tecnologia fotovoltaica surge como uma excelente oportunidade para países e comunidades repensarem e transformarem suas infraestruturas energéticas. Ao adotar a energia solar, é possível acelerar a transição para um modelo energético de baixo carbono, essencial para mitigar os impactos ambientais e promover a sustentabilidade. No entanto, uma questão crucial é saber se o potencial de energia fotovoltaica de uma determinada região é suficientemente favorável para justificar a adoção dessa tecnologia. A avaliação desse potencial envolve não apenas aspectos técnicos e econômicos, mas também fatores culturais, sociais e ambientais.

Fatores Técnicos

Existem duas principais tecnologias para converter a radiação solar em eletricidade: a fotovoltaica e a solar térmica concentrada (CST). A conversão fotovoltaica divide-se em duas categorias principais: células de wafer (cristalinas) e de filme fino, que, por sua vez, são classificadas em gerações conforme a complexidade e os avanços tecnológicos de fabricação.

A tecnologia fotovoltaica, classificada como primeira geração, consiste em células solares fabricadas a partir de wafers de um semicondutor, como o silício (Si) ou arseneto de gálio (GaAs), podendo ser monocristalinos ou policristalinos. As células de silício cristalino são as mais utilizadas e comercializadas, dominando cerca de 95% do mercado. Nesse sentido, as células monocristalinas de silício (m-Si) possuem eficiência de até 25%, enquanto que as células policristalinas (p-Si) apresentam eficiência em torno de 15%. Isso porque as as células monocristalinas apresentam um número menor de defeitos, exibindo uma maior eficiência. Contudo, as células policristalinas são mais baratas, por exigirem um processo de fabricação menos rigoroso (vide Figura 1). Já as células monocristalinas de arseneto de gálio (GaAs) possuem alta eficiência, em torno de 30%, porém seu custo elevado limita a aplicação a nichos específicos, como em satélites artificiais.¹

Figura 1 - Células de silício policristalino (esquerda) e monocristalino (direita). ¹

Ainda no contexto da tecnologia fotovoltaica, as células consideradas como de segunda geração são produzidas a partir de filmes finos (thin films) de materiais semicondutores. Sua principal vantagem está no menor custo de fabricação, pois não exigem processos complexos para obtenção de materiais ultra-puros, além do baixo consumo de material semicondutor, já que em células de primeira geração, 50% de seu custo está no processo de fabricação do wafer. Entre os principais exemplos dessa categoria estão as células de silício amorfo (a-Si), telureto de cádmio (CdTe) e seleneto de cobre-índio-gálio (CIGS). ¹

Figura 3 - Tipos de Sistemas de Energia Solar Concentrada. ²

Diferentemente dos sistemas fotovoltaicos, que convertem a luz em eletricidade, a energia solar térmica concentrada (CST), também conhecida como energia solar concentrada (CSP – Concentrated Solar Power), utiliza o calor do sol. Essa tecnologia opera de forma distinta ao empregar espelhos ou lentes para capturar e concentrar a luz solar em um único ponto. Esse processo gera calor intenso, utilizado para aquecer um fluido, como óleo sintético ou sal fundido. Então, o fluido aquecido é responsável por gerar vapor, que aciona uma turbina conectada a um gerador, resultando na produção de eletricidade. Desse modo, um dos seus maiores benefícios é a capacidade de armazenar energia térmica por meio de sistemas de armazenamento térmico (TES). Existem quatro tecnologias principais de CST, as torres solares (sistemas receptores centrais), calhas parabólicas, pratos parabólicos e refletores de Fresnel lineares. ²

O CST se destaca por sua eficiência em regiões com alta incidência solar, mas exige alto investimento inicial devido à complexidade da instalação e materiais específicos. Em contrapartida, apresenta baixos custos operacionais e alta eficiência energética, especialmente por integrar sistemas de armazenamento térmico (TES), que permitem gerar eletricidade mesmo sem luz solar. Essa capacidade de armazenamento melhora a estabilidade da rede elétrica e torna o CST mais competitivo. No entanto, requer manutenção preventiva constante, como limpeza e alinhamento dos espelhos, para garantir o bom desempenho e prolongar a vida útil da planta. ²

Desse modo, a tecnologia fotovoltaica se destaca pelo menor custo inicial e ampla aplicabilidade, especialmente com as células de silício cristalino, que dominam o mercado. Já a energia solar térmica concentrada (CST) apresenta maior eficiência e a vantagem do armazenamento térmico, permitindo geração mesmo sem sol, embora demande alto investimento e manutenção constante. Assim, para aplicações descentralizadas e de menor escala, como residências e comércios, a fotovoltaica é mais viável. Por outro lado, em projetos de grande porte e regiões com alta insolação, o CST se mostra uma alternativa estratégica, especialmente onde a estabilidade da rede e o fornecimento contínuo são essenciais.

Fatores econômicos

A média ponderada da capacidade global do custo total instalado dos projetos comissionados em 2023 foi de US$758/kW (potência), 86% menor que em 2010 e 17% menor que em 2022. Já o fator de capacidade médio global dos sistemas solares fotovoltaicos de grande porte aumentou de 13,8% em 2010 para 16,2% em 2023. Esse avanço aconteceu graças a três melhorias importantes. Primeiro, os sistemas começaram a usar inversores (equipamentos que transformam a energia dos painéis em eletricidade para uso) de forma mais eficiente, com ajustes que permitem gerar mais energia gastando menos. Segundo, os novos projetos estão sendo instalados em locais onde há mais sol ao longo do ano, o que naturalmente aumenta a produção de energia. E por fim, aumentou o uso de estruturas que acompanham o movimento do sol durante o dia (rastreadores solares). Esses rastreadores, somados ao uso de painéis mais modernos que captam luz dos dois lados (os chamados bifaciais), permitem que os sistemas funcionem melhor em diferentes regiões do mundo (inclusive naquelas com menos sol direto). Assim, diante dos dados apresentados, observa-se um progresso significativo na eficiência e viabilidade econômica da energia solar fotovoltaica ao longo do período de 2010 a 2023 (vide Figura 2).³

Figura 2 - Média ponderada global e intervalo de custos totais instalados e fatores de capacidade, 2010-2023.³

Nesse mesmo período de 2010 a 2023, os custos da energia solar fotovoltaica caíram significativamente em mercados que haviam registrado aumentos em 2022. A Holanda teve a maior redução, de 41%, seguida pela Alemanha com 29%, que apesar da redução dos custos, expandiu sua capacidade em 20%, adicionando 14 GW ao sistema. Já a França reduziu os custos em 20% ao instalar 3 GW. ³

Por outro lado, alguns países registraram aumentos: A Índia com 7%, Austrália e Itália com 3%, Chile com 4% e México com 6%. Já a China e Espanha mantiveram projetos competitivos, com custos médios de USD 671/kW. Por fim, os mercados asiáticos, como Japão e Coreia do Sul, viram uma queda nos custos após uma alta de 5% em 2022 (vide Figura 3). ³

Figura 3 - Tendências de custo total instalado de energia solar fotovoltaica em grande escala nos principais mercados de grande escala, 2018-2023. ³

Com a normalização da cadeia de suprimentos, o número de países com aumento nos custos caiu de oito (em 2022) para cinco (em 2023), enquanto nove mercados tiveram reduções de até 41% nos custos. Entretanto, no Reino Unido, os custos permaneceram estáveis em relação a 2021. ³

Entre dezembro de 2009 e dezembro de 2023, os preços dos módulos de silício cristalino caíram entre 92% e 98% para módulos vendidos na Europa, dependendo do tipo. A redução de custo médio ponderado foi da ordem de 93% durante esse período. Durante dezembro de 2023, os módulos tradicionais foram vendidos por USD 0,16/watt (W), um valor 52% menor do que em 2022. Existe uma ampla gama de custos, no entanto, dependendo da tecnologia de módulo considerada. ³

Os preços dos módulos cristalinos diminuíram entre 16% e 55% durante 2023. Os custos variaram de tão baixo quanto USD 0,11/W para os módulos de menor custo até tão alto quanto USD 0,38/W para módulos bifaciais. Eles estão se tornando padrão, com sua participação de mercado continuando a crescer (avançando de 8% em 2019 para 27% em 2020, 28% em 2021, 30% em 2022 e 50% em 2023) (ITRPV, 2024). Desse modo, historicamente, a tendência de queda nos custos dos módulos solares fotovoltaicos tem sido um importante impulsionador da competitividade melhorada. ³

Fatores Sociais

Os postos de trabalho relacionados com as energias renováveis são moldados por dois fatores principais: primeiro, o ritmo anual de implementações globais de capacidade de geração e, segundo, a dinâmica das indústrias que fabricam equipamentos e oferecem serviços associados. Nesse contexto, o crescimento da energia solar fotovoltaica nos últimos anos tem desempenhado um papel central na geração de empregos, tanto na instalação de novas usinas quanto na cadeia produtiva de componentes e serviços.⁴

Em 2023, a energia solar fotovoltaica registrou um crescimento recorde da capacidade global, com 347 gigawatts (GW), um aumento de 74% em relação a 2022, impulsionado, principalmente, pela queda nos custos dos painéis e por políticas de apoio. A China dominou essa expansão, sendo responsável por 63% da nova capacidade (216,9 GW), sendo tão dominante que suas adições de 2023 sozinhas excedem em muito a capacidade cumulativa de qualquer outro país até o momento (IRENA, 2024a). Enquanto isso,o restante dos dez principais instaladores (Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Índia, Espanha, Itália, Holanda, Japão e Austrália) adicionaram um total combinado de 83,4 GW. ⁴

Em relação à fabricação, a China foi responsável por 96% da capacidade global de wafers e 88% da capacidade global de células solares em 2023 (Pierce e Sun, 2023). Com menores custos de materiais, capital e mão de obra, o país fabricou módulos por US$0,15/W, muito abaixo dos valores praticados na Índia (US$0,22), Europa (US$0,30) e EUA (US$0,40). O aumento da sobrecapacidade produtiva tem reduzido preços e pressionado salários no setor. ⁴

Nesse sentido, quanto a política comercial, a experiência em países tão diversos quanto a Índia, África do Sul e Estados Unidos mostra que restrições às importações, isoladamente, não fortalecem a produção local. A solução mais eficaz é combinar restrições cuidadosamente projetadas com medidas de política industrial (por exemplo, incentivos governamentais para fabricação local), para desenvolver cadeias produtivas nacionais e reduzir a dependência internacional.⁴

Como regra geral, 1 GW de capacidade de produção de módulos pode gerar de 1.085 a 2.020 empregos diretos em toda a cadeia de valor, embora as necessidades de mão de obra variem em diferentes partes do mundo (USDOE, 2022). A Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) estimou o número de empregos global em energia solar fotovoltaica em 7,1 milhões em 2023, um aumento acentuado em relação aos 4,9 milhões em 2022. Dos dez principais países (vide Figura 4), quatro estão na Ásia, outros três na Europa, dois nas Américas e um na Oceania.⁴

Em 2023, os dez principais países empregaram 6,2 milhões de pessoas na cadeia da energia solar fotovoltaica, representando 86% do total global. A Ásia concentra 77% dos postos de trabalho, enquanto a Europa tem 10,7% (sendo 719.900 na UE), as Américas, 8,6%, e os demais países, 3,3%. A China liderou com 65% dos empregos (4,6 milhões), reforçando o seu domínio no setor. Já a Índia registrou 318.600 empregos, os EUA, 280.000, e o Brasil, 264.000, impulsionado pelo aumento nas instalações. No Japão, a força de trabalho caiu para 115.000 devido à redução na expansão na cadeia solar.⁴

Figura 4 - Número de empregos na cadeia ligada à energia solar fotovoltaica (F) em 2023: Dez principais países.⁴

A forte correlação entre a expansão da capacidade instalada e a geração de empregos no setor solar fotovoltaico pode ser claramente observada no caso da China. Em 2023, o país foi responsável por 63% da nova capacidade global adicionada, o equivalente a 216,9 GW, consolidando sua liderança mundial no setor. Esse domínio na expansão da infraestrutura fotovoltaica reflete diretamente na geração de empregos, no qual a China também concentrou 65% dos postos de trabalho globais em energia solar, empregando aproximadamente 4,6 milhões de pessoas (vide Figura 4). As porcentagens semelhantes reforçam a ideia de que, quanto maior o investimento e o crescimento da capacidade instalada, maior tende a ser o impacto na cadeia produtiva e na absorção de mão de obra (especialmente em países que controlam grandes partes da fabricação, instalação e manutenção de sistemas solares).

Dadas as restrições à expansão da rede em áreas carentes, a energia renovável descentralizada (DRE) é crucial para fornecer energia limpa, confiável e acessível a comunidades remotas e difíceis de eletrificar, onde 80% das pessoas vivem hoje sem acesso à energia elétrica (IEA, IRENA, UNSD, Banco Mundial e OMS, 2024).⁴

As tecnologias DRE são mais relevantes do que nunca, especialmente em áreas periurbanas e rurais. Alguns estudos projetam que a DRE ajudará a levar eletricidade para 55% da população mundial não eletrificada, apoiando não apenas meios de subsistência sustentáveis, mas também o emprego em geral. Embora os dados sobre empregos em DRE permaneçam limitados, certas tecnologias, como a energia solar fotovoltaica off-grid, mostram-se particularmente promissoras. Em 2023, estima-se que 307 000 pessoas foram diretamente empregadas em DRE na Índia, Quênia, Nigéria, Uganda e Etiópia (Power for All 2022).⁴

Figura 5 – Imagem que ilustra a participação feminina no setor solar (GOGLA 2023).

A expansão da energia solar fotovoltaica descentralizada exige investimentos e capacitação de uma força de trabalho diversa. A falta de mão de obra qualificada pode dificultar sua implementação, especialmente em países em desenvolvimento. Nesse viés, as mulheres desempenham um papel essencial nesse setor, contribuindo para o desenvolvimento econômico, redução da pobreza e inclusão social.⁴

A participação feminina no setor solar off-grid tem crescido, segundo a associação global para a indústria de energia solar fora da rede (GOGLA). A GOGLA relata que as mulheres ocupam 27% de todos os empregos equivalentes em tempo integral (FTE) no setor solar fora da rede, e que a representação feminina deve crescer à medida que o setor se expande (GOGLA, 2023, vide Figura 5). No entanto, desafios socioeconômicos e barreiras estruturais ainda limitam seu acesso a oportunidades, destacando a necessidade de políticas que incentivem sua inserção.⁴

A participação feminina no setor solar off-grid tem crescido, segundo a associação global para a indústria de energia solar fora da rede (GOGLA). A GOGLA relata que as mulheres ocupam 27% de todos os empregos equivalentes em tempo integral (FTE) no setor solar fora da rede, e que a representação feminina deve crescer à medida que o setor se expande (GOGLA, 2023, vide Figura 5). No entanto, desafios socioeconômicos e barreiras estruturais ainda limitam seu acesso a oportunidades, destacando a necessidade de políticas que incentivem sua inserção.⁴

Fatores Ambientais

A crescente urgência em conter as mudanças climáticas exige ações de governos, empresas e sociedade para reduzir os impactos ambientais. Como muitas atividades diárias geram gases de efeito estufa, adotar medidas sustentáveis é essencial para mitigar esses efeitos e promover a preservação do meio ambiente. Uma solução eficaz é investir na descarbonização por meio da energia renovável, como a energia solar.

Uma das principais preocupações dos líderes mundiais, instituições e organizações sociais é preservar a meta limite do aquecimento global em até no máximo 1,5°C, seguindo o Acordo de Paris, firmado em 2015. De acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), a energia solar tem potencial para alcançar 21% das reduções de emissões de CO2 até 2050, considerando a implantação acelerada dessa fonte no mundo e a eletrificação das atividades.⁵

Então, para seguir o caminho da energia limpa, a implantação da capacidade renovável é de extrema importância aumentar rapidamente para atingir a meta de triplicação da capacidade. A primeira edição do relatório anual de acompanhamento da IRENA conclui que adições anuais médias de 1.044 GW serão necessárias para triplicar a capacidade renovável instalada para 11,2 terawatts (TW) até o final da década, representando um crescimento anual composto de 16,4% entre 2024 e 2030. Expandir as energias renováveis em regiões e países fora dos principais mercados e aumentar as energias renováveis além da energia solar fotovoltaica são duas prioridades principais para atingir as metas de descarbonização. Sendo assim, é necessária uma colaboração internacional intensiva para cumprir a meta de 2030 e, mais importante, para atingir emissões líquidas zero até 2050.⁶

Vale ressaltar também, os impactos negativos da adoção da energia solar. Nesse sentido, a fabricação de painéis solares requer o uso intensivo de matérias-primas, como silício, prata, alumínio e vidro, cuja extração e processamento podem gerar impactos significativos, incluindo emissões de gases de efeito estufa (GEE), consumo elevado de energia e geração de resíduos (Fthenakis & Kim, 2011). Ademais, o uso de produtos químicos, como ácido fluorídrico e perclorato de sódio, ao longo da etapa de fabricação, apresenta riscos potenciais à saúde humana e ao meio ambiente, ressaltando a importância de uma análise detalhada desta fase.⁷

Outro aspecto crítico, é o fim de vida útil dos painéis solares, que geralmente ocorre após 25 a 30 anos de operação, período no qual espera-se que tenham ao menos 80% de rendimento. Apesar da longa vida útil, a crescente instalação de sistemas solares em escala global resulta num aumento no volume de resíduos gerados, estimado em até 78 milhões de toneladas até 2050 (IRENA, 2016). Tais resíduos incluem componentes valiosos, como metais raros e vidro, cuja recuperação por meio de reciclagem pode reduzir a demanda por novas matérias-primas e minimizar os impactos ambientais, promovendo uma economia circular. No entanto, práticas inadequadas de descarte podem resultar na contaminação do solo e da água por substâncias tóxicas, como chumbo e cádmio (frequentemente presentes em algumas tecnologias fotovoltaicas). Isso pode afetar negativamente os organismos locais, levando a desequilíbrios ecológicos e, em casos extremos, à perda de biodiversidade. Por exemplo, a introdução de metais pesados nos sistemas aquáticos pode causar bioacumulação em organismos aquáticos, afetando cadeias alimentares inteiras.⁶

Assim, os desafios relacionados ao descarte e reciclagem de painéis solares são significativos, mas não impossíveis de superar. Combinando avanços tecnológicos, incentivos econômicos e regulamentações eficazes, é possível estabelecer um ciclo de vida sustentável para a tecnologia fotovoltaica. Com a implementação de práticas de economia circular, aliada à criação de cadeias logísticas eficientes e tecnologias inovadoras, será essencial para transformar os resíduos solares em recursos valiosos, reduzindo os impactos ambientais e fortalecendo a sustentabilidade da energia solar como uma solução indispensável para a transição energética global.⁷

Fatores Culturais

O aumento acelerado da demanda global por energia, ao lado da diminuição das reservas de gás e petróleo e dos impactos do aquecimento global, tem levado diversos países a adotar políticas voltadas para a promoção de tecnologias de energia renovável. Contudo, os países em desenvolvimento enfrentam uma série de desafios nesse processo. Muitas vezes, lidam com a falta de recursos, a escassez de vontade política e com prioridades nacionais que dificultam a implementação de ações eficazes para facilitar essa transição energética.

Alguns exemplos de políticas adotadas incluem a criação, em 2011, do Programa de Aquisição de Produtores Independentes de Energia Renovável pelo governo sul-africano, com o objetivo de atrair investimentos privados por meio de licitações competitivas. Esse programa gerou mais de 6 GW de capacidade, principalmente a partir de energia solar e eólica, e impulsionou a criação de empregos. Além disso, estabeleceu requisitos de conteúdo e propriedade locais, incentivando a produção doméstica de componentes renováveis e o desenvolvimento de habilidades, com as empresas participantes obrigadas a apoiar o desenvolvimento socioeconômico local, incluindo educação e treinamento ao longo do projeto.⁴

A Comissão Europeia também lançou o Pacto para Competências, uma iniciativa voltada para o aprimoramento das competências no ecossistema de energia renovável. A iniciativa reúne mais de 40 organizações e 35 câmaras de comércio, com objetivos que incluem monitorar a oferta e a demanda de habilidades, antecipar necessidades futuras, promover a aprendizagem contínua e garantir igualdade de gênero e oportunidades. Além disso, o pacto funciona como uma plataforma para a troca de melhores práticas em requalificação, contribuindo para a transformação da força de trabalho em direção a economias e sociedades mais sustentáveis.⁴

Além das políticas nacionais e internacionais voltadas à promoção de energia renovável, é fundamental considerar os aspectos locais e os impactos sociais da adoção de novas infraestruturas energéticas. Um exemplo marcante é o caso da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Brasil. Apesar de seu potencial energético, o projeto gerou controvérsias significativas relacionadas ao deslocamento de comunidades indígenas e ribeirinhas, à alteração de ecossistemas e à falta de consulta às populações afetadas. Esse caso evidencia que, para uma transição energética justa e sustentável, é necessário incluir desde o início a perspectiva das populações locais nos processos de decisão.

Situação semelhante tem ocorrido também em projetos de energia solar em larga escala. Um exemplo notável é o caso da Comunidade Quilombola Pitombeira, localizada na Paraíba. Essa comunidade tradicional tem enfrentado impactos negativos com a instalação de empreendimentos solares em seu território ou em áreas próximas, sem a devida consulta prévia. O projeto foi implantado sem considerar os modos de vida locais, o que resultou em prejuízos socioambientais como a redução do acesso a recursos naturais, alterações na paisagem e limitações à continuidade de práticas culturais e econômicas tradicionais. Moradores relatam ainda uma desestabilização ecológica da região, com impactos sobre o solo e a vegetação, além da ausência de compensações adequadas.⁸

Sendo assim, projetos energéticos não devem apenas atender a metas de produção, mas também respeitar os direitos das comunidades envolvidas, assegurando que impactos sejam minimizados e que haja melhorias reais nas condições de vida das pessoas diretamente afetadas.

Conclusão

Do ponto de vista global, a adoção da energia solar deve ser analisada de forma crítica, considerando aspectos que vão além dos fatores técnicos e econômicos. Elementos sociais, ambientais e até culturais influenciam diretamente na forma como a energia solar é implementada e aceita em diferentes países. Desafios como desigualdades sociais, disponibilidade de recursos, infraestrutura limitada ou conflitos territoriais podem limitar o sucesso dessa fonte de energia, mesmo em regiões com grande potencial solar. Por isso, cada país enfrenta suas próprias condições e obstáculos, tornando o panorama mundial diverso e complexo.

Ao analisar a notícia 5 (Fatores Que Influenciam A Adoção Da Energia Solar No Brasil), publicada anteriormente, no site do NAPI-EZC (https://napiezc.science/divulgacao-cientifica/fatores-adocao-energia-solar-brasil/), que traz uma reflexão para o Brasil, conclui-se que nem sempre as soluções internacionais podem ser replicadas de forma direta em nossa país. Embora o Brasil possua um excelente potencial solar, com uma matriz energética já majoritariamente renovável, observa-se um cenário distinto em relação a países que dependem fortemente de combustíveis fósseis. Além disso, questões socioeconômicas, desigualdades regionais e limitações de infraestrutura fazem com que estratégias bem-sucedidas em outras nações precisem ser cuidadosamente adaptadas ao contexto brasileiro, ou seja, o que é eficiente e viável em um país, nem sempre será a melhor escolha para outro país.

REFERÊNCIAS

  1. SILVA, João da. Análise da eficiência de sistemas de energia solar térmica concentrada. 2023. 120 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Universidade Federal
  2. 123ECOS. Energia solar concentrada: o que é e como funciona. Disponível em: https://123ecos.com.br/docs/energia-solar-concentrada/.
  3. INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY (IRENA). Renewable power generation costs in 2023. Setembro, 2024. Disponível em: <https://www.irena.org/Publications/2024/Sep/Renewable-Power-Generation-Costs-in-2023>.
  4. INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY (IRENA). Renewable energy and jobs: Annual review 2024. Outubro, 2024. Disponível em:<https://www.irena.org/Publications/2024/Oct/Renewable-energy-and-jobs-Annual-review-2024>.
  5. G1. Energia solar e crédito de carbono: entenda qual a relação entre essas modalidades. G1 – Globo, 11 ago. 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/especial-publicitario/top-sun/top-sun-energia-solar/noticia/2021/08/11/energia-solar-e-credito-de-carbono-entenda-qual-a-relacao-entre-essas-modalidades.ghtml>.
  6. INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY (IRENA). World energy transitions outlook 2023. Junho, 2023. Disponível em: https://www.irena.org/Publications/2023/Jun/World-Energy-Transitions-Outlook-2023.
  7. SOARES, Diogo da Fonseca; NORAT, Markus Samuel Leite. Análise do ciclo de vida de painéis solares e seu impacto ambiental. Scientia et Ratio, v. 4, n. 7, dez. 2024. Disponível em:
  8. https://scientiaetratio.com.br/analise-do-ciclo-de-vida-de-paineis-solares-e-seu-impacto-ambiental/.

Autor:

Sarah de Almeida Lima é aluna de Engenharia de Produção da UEM e bolsista de Iniciação Tecnológica (Fundação Araucária) do NAPI EZC. Desenvolve o projeto intitulado “Estudo e determinação dos fatores que influenciam a adoção de diferentes soluções em geração e coleta de energia limpa”, sob a orientação do Prof. Dr. Ivair Aparecido dos Santos, docente do DFI/UEM.

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