Os gases do efeito estufa no Brasil

Sarah de Almeida Lima*

Em 2022, o Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa (GEE), o que representou uma queda de 8% em relação a 2021, quando a emissão bruta foi de 2,5 bilhões de toneladas. Mesmo com a redução, a emissão no ano de 2022 foi a terceira maior observada desde 2005, ficando abaixo apenas daquelas observadas em 2019 e 2021 (vide Figura 1).

Essa queda é explicada principalmente pelo comportamento do desmatamento na Amazônia, que é o principal fator controlador das emissões brasileiras de GEE desde o início da constituição do SEEG (O Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), em 2012. ¹

No Brasil, em relação às emissões de GEE por setor, a mudança no uso da terra e florestas (o desmatamento, as queimadas para plantio e alterações no estoque de carbono orgânico do solo), fez com que as emissões de GEE aumentassem 24% em 2021, e caíssem em 15% no ano de 2022 devido a diminuição do desmatamento na Amazônia (taxa de desmatamento medida pelo sistema Prodes, do Inpe, caiu 11%, de 13.038 km2 para 11.594 km2), a queda das emissões advindas do desmatamento impulsionaram o setor para baixo. 

Contudo, a destruição de diversos biomas brasileiros levou à emissão de 1,2 bilhão de toneladas brutas de GEE no ano de 2023. As alterações de uso da terra representaram 93% das emissões do setor agropecuário no último ano, seguida de uma pequena parcela de emissões por queimadas associadas ao desmatamento (5%) e de alterações no estoque de carbono orgânico do solo (2%).¹

Figura 1 - Emissões de gases de efeito estufa do Brasil de 1990 a 2022 (GtCO2e).¹

Entretanto as emissões não caíram apenas com a mudança de uso da terra. O setor de energia, por exemplo, apresentou uma redução na emissão de GEE em 2023 de 5%, depois de registrar em 2021 uma alta recorde de 12%, a maior desde 1973. Em 2022 foram emitidas 412 milhões de toneladas de CO² equivalente, contra 434 milhões em 2021.

Ou seja, essa queda se deve principalmente às chuvas abundantes, que reduziram a geração termelétrica e aumentaram a produção advinda de usinas hidrelétricas, e à contínua entrada de energias renováveis em grande quantidade na matriz energética nacional.

Vale ressaltar, também, que o setor de processos industriais e uso de produtos registrou queda de 6% nas emissões de GEE (para 78 milhões de toneladas), decorrente principalmente da diminuição da produção de cimento, e o de resíduos (resíduos sólidos em aterros controlados, lixões e aterros sanitários, efluentes domésticos, efluentes líquidos industriais, incineração da queima a céu aberto e da compostagem), uma redução de 1% (91 milhões de toneladas de CO²), provocada pela redução da população brasileira no último Censo Demográfico Nacional.¹

Figura 2 - Emissões da agropecuária por subsetor no período de 1970 até 2022.¹

Já o setor da agropecuária, em 2022, apresentou emissões que foram novamente as mais altas da história, superando o recorde do ano anterior de 617,2 milhões de toneladas de CO2 equivalente (GWP AR5), o que representa um aumento de 3,2% em relação a 2021 (598,3 milhões de toneladas) (vide Figura 2). 

A principal causa das emissões foi, assim como em 2021, o crescimento do rebanho bovino, que emite metano (CH4, emitido por meio da fermentação entérica do rebanho bovino, denominada popularmente como “arroto” do boi, vide Figura 3).

O metano é um poderoso GEE e figura como o segundo maior responsável pelo aquecimento global. 

Vale ressaltar, ainda, que sua concentração mais que dobrou desde os tempos pré-industriais.¹

Para reduzir as emissões de metano por fermentação entérica, foram propostas estratégias de mitigação para os rebanhos bovinos de corte e leite que incluem terminação intensiva (TI), melhoramento genético animal (MGA), manipulação da fermentação ruminal e aprimoramento da dieta animal.²

Em 2022, os estados de Mato Grosso (17,3%) e Pará (15,6%) foram os principais emissores brutos de CO2 no Brasil, seguidos por Minas Gerais (7,3%), Rondônia (6,6%) e São Paulo (6,5%). 

Em termos de emissões brutas per capita, em 2022, Mato Grosso lidera com 106 toneladas de CO2 por habitante, superando em mais de 17 vezes a média mundial, que é de 6,2 toneladas per capita, enquanto Rondônia segue com 95 toneladas per capita.

O desmatamento e a produção agropecuária são as principais fontes de emissões em Mato Grosso, Rondônia e Pará. Já em São Paulo e Minas Gerais, as maiores fontes de emissão são o setor de energia (especialmente o transporte) e, em Minas Gerais, também a pecuária leiteira e processos Industriais e uso de produtos (mineração) (vide Figura 4).¹

Desse modo, o aumento verificado nas emissões de GEE nos últimos quatro anos exigirá um esforço ampliado para que o Brasil cumpra sua meta de redução de GEE estabelecida no Acordo de Paris para 2025 (NDC – Contribuição Nacionalmente Determinada) (vide Figura 5).¹

Figura 3 - Emissão de metano por fermentação entérica (o “arroto” do boi).²
Figura 4 - Emissões líquidas por estado, 2022.¹
Figura 5 - Histórico das emissões brasileiras de CO2 e cenários para o cumprimento da NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada).¹

Nesse sentido, será necessário reduzir o desmatamento na Amazônia em 49% entre 2022 e 2025, retomando os níveis médios de desmatamento dos anos mais baixos (2009 a 2012). Em relação às emissões de GEE na produção agropecuária, o setor tem apresentado e empregado técnicas de remoção de carbono dos solos manejados por meio das práticas e tecnologias ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono).

Essas iniciativas ajudam o Brasil a atingir as metas do Acordo de Paris e guiam o setor na direção de uma produção de baixas emissões de GEE, que busca também aumentar a produtividade ao mesmo tempo em que se estocam mais carbono e se reduz as emissões.

No entanto, essas remoções ainda não são contabilizadas nos inventários nacionais devido à falta de metodologia oficial para estimá-las. Já os setores de energia e processos industriais têm associado o transporte como a principal atividade emissora de GEE, responsável por 44% do conjunto total de suas emissões.

Neste contexto, é essencial que o país busque alternativas ao uso do diesel de petróleo no transporte de cargas por longas distâncias em rodovias. Da mesma forma, as cidades devem aproveitar o esforço global pela transição energética para se modificarem e adotarem outros meios de transporte que não os tradicionais, optando por modos ativos (que envolve atividade física, caminhadas ou corridas) e coletivos, que são menos poluentes e, especialmente, mais democráticos que o uso do carro.¹

No quesito transporte, o gás natural parece ser, pelo menos do ponto de vista econômico, uma solução viável. Contudo, como o gás natural é um combustível fóssil, ele praticamente não reduz as emissões de GEE, embora emita menos material particulado. As emissões de GEE do gás natural comprimido (GNC) variam conforme a eficiência e possíveis vazamentos de metano durante o transporte. 

Deve-se ressaltar que o biodiesel oferece poucas vantagens ambientais, devido ao alto consumo energético e elevadas emissões para a sua produção. Pela perspectiva econômica, as melhores opções são GNC, gás natural liquefeito (GNL) e caminhões híbridos. O gás natural é mais barato que o diesel e, por emitir menos material particulado, pode ser escolhido como alternativa.³

Da mesma forma, se as emissões em todo o setor de mudança de uso da terra fossem eliminadas, ou seja, se o desmatamento nos outros biomas brasileiros também fosse eliminado ou drasticamente reduzido, haveria uma redução adicional de aproximadamente 220 MtCO2e em 2030. As emissões líquidas nacionais seriam de 685 MtCO2e, pouco mais da metade (57%) da meta da NDC para 2030.¹

Pode-se inferir que o Brasil apresenta efeitos significativos na redução das emissões de GEE, com uma queda de 8% em 2022 em comparação a 2021. No entanto, as emissões ainda permanecem entre as mais altas desde 2005, principalmente devido ao desmatamento na Amazônia, que continua sendo um fator crítico. 

Além disso, os setores como energia e processos industriais também mostraram reduções nas emissões de GEE, enquanto o setor agropecuário apresentou um aumento significativo, destacando a necessidade de estratégias de mitigação específicas para as emissões de GEE, como a terminação intensiva (TI) e o melhoramento genético animal (MGA). A análise indica que, para o Brasil cumprir suas metas do Acordo de Paris até 2025, é necessário intensificar os esforços de redução do desmatamento e adotar práticas sustentáveis em todos os setores. 

Sendo assim, embora haja avanços, o Brasil precisa de uma abordagem mais integrada para alcançar uma redução significativa e sustentável das emissões de GEE, promovendo uma economia de baixo carbono e garantindo a preservação ambiental a longo prazo.

Referências:

¹ ANÁLISE DAS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA AS METAS CLIMÁTICAS DO BRASIL. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://seeg.eco.br/wp-content/uploads/2024/02/SEEG11-RELATORIO-ANALITICO.pdf>

² Desafios e Oportunidades para Redução das Emissões de Metano no Brasil. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://seeg.eco.br/wp-content/uploads/2024/03/SEEG-METANO.pdf>. 

³ RCGI. Estudo avalia alternativas ao diesel para os caminhões de carga. Disponível em: <https://sites.usp.br/rcgi/br/estudo-avalia-alternativas-ao-diesel-para-os-caminhoes-de carga/#:~:text=Pela%20perspectiva%20econ%C3%B4mica%2C%20as%20melhores>.

Autora:

Sarah de Almeida Lima, aluna de Engenharia de Produção na UEM e bolsista Fundação Araucária de Iniciação Tecnológica do NAPI EZC. Desenvolve o projeto na área do “Estudo comparativo entre diferentes fontes de energia renovável”, sob a orientação do Prof. Dr. Ivair Aparecido dos Santos, docente do DFI/UEM.

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