A manufatura aditiva, conhecida também como impressão 3D, é um processo ascendente no qual os objetos são construídos camada por camada usando desenho assistido por computador (CAD) para criar estruturas complexas. (JIN et al., 2022). Após a criação do design, o arquivo pode ser salvo em Standard Tessellation Language (stl), Object file Wavefront 3D (OBJ), formato de manufatura 3D (3MF) dentre outros, que armazena as informações sobre a superfície 3D na forma de malhas triangulares em coordenadas cartesianas (KITSON et al., 2016). Na Figura 01 é apresentado um esquema do processo de impressão 3D.
Os polímeros e seus compósitos são hoje amplamente utilizados em diversos setores industriais, devido à sua flexibilidade no desenvolvimento de produtos customizados. O aumento significativo no uso de plástico levou a um grave desafio na gestão de resíduos plásticos em fim de vida. Milhões de toneladas de resíduos plásticos produzidos anualmente acabam principalmente em aterros, vazando para o meio ambiente e representando graves ameaças aos ecossistemas. Com isso, soluções inovadoras para reutilizar/reciclar/reaproveitar resíduos plásticos são desejadas para enfrentar estes desafios globais (AL RASHID; KOÇ, 2024).
A manufatura aditiva se destaca como uma nova abordagem que oferece inúmeras vantagens em relação à fabricação convencional. Estas incluem a redução do período de desenvolvimento, a customização, o aumento da flexibilidade no ambiente de produção, a tomada de decisões mais rápida através da descentralização e, o mais importante, a promoção da sustentabilidade e da eficiência dos recursos em contextos ecológicos, além da redução dos custos de produção e do desperdício de matérias-primas. (MAISANO et al., 2022; ZAINUDDIN et al., 2024).
Neste contexto, a impressão 3D, uma tecnologia inovadora, oferece a possibilidade de fabricar objetos com estruturas geometricamente complexas (PARK et al., 2023). Devido ao seu notável desempenho e economia de tempo e custo, a tecnologia de impressão 3D foi implementada usando vários materiais de impressão para preparar materiais impressos em 3D em indústrias tão diversas como a aeroespacial. (JOSHI; SHEIKH, 2015), biomédica (GHILAN et al., 2020) e indústrias alimentícias (LIU et al., 2017).
A partir dos avanços tecnológicos e científicos, uma variedade significativa de poluentes tem sido introduzida no meio ambiente, provenientes tanto de fontes pontuais quanto de fontes difusas (SCARIA et al., 2022). Além disso, o crescimento industrial é uma consequência inevitável do estilo de vida moderno, embora contribua significativamente para a poluição ambiental (PENG et al., 2021).
Os contaminantes emergentes (CEs), substâncias químicas provenientes de atividades humanas ou de processos naturais, estão presentes em diversos compartimentos ambientais. No entanto, o conhecimento acerca de seu destino ambiental, processos de transformação e potencial toxicológico permanece incompleto (SAUVÉ; DESROSIERS, 2014; STEFANAKIS; BECKER, 2016). A diversidade de substâncias químicas classificadas como contaminantes emergentes é ampla, abrangendo desde produtos de higiene pessoal e fármacos até surfactantes, retardantes de chama, adoçantes artificiais, aditivos industriais e subprodutos do tratamento de água (NOGUERA-OVIEDO; AGA, 2016; SCARIA; ANUPAMA; NIDHEESH, 2021; TAHERAN et al., 2018).
Uma gama diversificada de tecnologias, incluindo processos de adsorção, tem sido amplamente investigada para a remoção de contaminantes emergentes. Esses métodos envolvem a transferência de poluentes de uma fase líquida (por exemplo, água) para uma fase sólida, permitindo sua remoção eficiente (AHMED et al., 2015; HOMEM; SANTOS, 2011). Nesse contexto, os materiais à base de carbono têm atraído a atenção entre pesquisadores devido às suas características físicas, químicas e propriedades de superfície (SCARIA et al., 2022).
COMBINAÇÃO DE MATERIAIS ADSORVENTES E IMPRESSÃO 3D
A Sociedade Americana para Testes e Materiais (ASTM F2792-12a) identificou mais de cinquenta tecnologias distintas de impressão 3D (ABAR et al., 2024). No campo do tratamento de água, essas tecnologias podem ser amplamente classificadas de acordo com seus princípios de funcionamento e métodos nas seguintes categorias:
(1) Fotopolimerização, que inclui técnicas como Estereolitografia (SLA) e Processamento Digital de Luz (DLP);
(2) Métodos de Extrusão de Material, exemplificados por Modelagem por Fusão e Deposição (FDM) e Escrita Direta de Tinta (DIW);
(3) Tecnologias de Fusão em Leito de Pó, como Fusão Seletiva a Laser (SLM) e Sinterização Seletiva a Laser (SLS);
e (4) Técnicas Adicionais de Impressão 3D, incluindo Jateamento de Ligante (Binder Jetting), PolyJet e Fabricação de Objetos Laminados (LOM) (ZHANG et al., 2024).
Cada uma dessas abordagens de fabricação apresenta vantagens e desafios específicos, sendo essencial considerá-los ao aplicar a tecnologia de impressão 3D em soluções para o tratamento de água. Alguns métodos de impressão 3D são apresentados na Figura 02.
Além disso, as vantagens e desvantagens de alguns dos principais métodos de impressão 3D de materiais adsorventes são apresentadas de acordo com a Tabela 01.
Comparada às técnicas tradicionais de conformação, a impressão 3D tem a vantagem de se combinar com diversos materiais adsorventes. As principais características dos adsorventes monolíticos impressos em 3D são as seguintes:
1) o método de incorporação de diferentes componentes ativos (HUANG et al., 2021; LI et al., 2020; PARK; LEE, 2022; WANG et al., 2022);
2) a influência de aditivos no efeito da impressão;
3) a influência das estruturas impressas em 3D no desempenho da adsorção (CHEN et al., 2022a; ZANOLETTI et al., 2018).
Mais importante ainda, a impressão 3D permite a fabricação de adsorventes monolíticos com uma variedade de estruturas, e as diferenças estruturais podem afetar os processos de transferência de calor e massa na adsorção, influenciando assim o desempenho final da adsorção (CHEN et al., 2022b). Atualmente, o processo de conformação dos adsorventes depende, em grande parte, do avanço das pesquisas na área, sendo que os métodos adequados de conformação variam conforme os requisitos de aplicação dos adsorventes (PATEL et al., 2021; WU et al., 2023; YANG et al., 2022).
MATERIAIS A BASE DE CARBONO PARA IMPRESSÃO 3D
Materiais de carbono são amplamente usados como adsorventes. Adsorventes monolíticos impressos em 3D incorporam carvão ativado, óxido de grafeno e carbono poroso modificado. O grafite também é impresso em 3D como eletrodo devido à sua alta condutividade. Além disso, a resina fotossensível, após sinterização, torna-se um material carbonáceo, permitindo a incorporação direta de componentes ativos (YU et al., 2023).
Materiais porosos à base de carbono são compostos por carbono elementar e apresentam vantagens como baixo custo, ampla variedade, alta estabilidade térmica, grande área superficial específica e abundância de canais porosos (IDREES et al., 2020; PIXLEY et al., 2023). Esses materiais têm sido amplamente estudados e aplicados em áreas como adsorção, separação e catálise (CHUAH et al., 2021).
Entre eles, o carvão ativado foi o primeiro material carbonáceo desenvolvido, caracterizando-se por sua estabilidade, insolubilidade em água e na maioria dos solventes orgânicos (WEI et al., 2022). Além disso, sua produção é simples e utiliza matérias-primas amplamente disponíveis, tornando-o um material de baixo custo (BASKAR et al., 2022). O mais importante é que o carvão ativado possui uma área superficial específica de 500 a 1500 m²/g e um tamanho de poro entre 2 e 50 nm, o que o torna altamente promissor para aplicações em adsorção (MOYANO et al., 2021).
O grafeno é um material de carbono bidimensional composto por átomos de carbono hibridizados sp², organizados em uma estrutura hexagonal compacta em forma de colmeia (SHAHID et al., 2022). Devido à sua estrutura atômica e eletrônica única, além de suas excelentes propriedades mecânicas e alta condutividade elétrica e térmica, o grafeno possui uma ampla gama de aplicações (MURUGESAN et al., 2022).
Na Figura 03 é apresentado um caso de impressão 3D de material adsorvente à base de carvão ativado, por meio da tecnologia de Escrita Direta de Tinta (DIW), utilizada em estudo desenvolvido por (LEE et al., 2024).
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Autor:
Gabriel Perina Gongora, bolsista Fundação Araucária de Mestrado do NAPI EZC. Desenvolve o projeto sob a orientação do Prof. Dr. Sandro Lautenschlager, docente da UEM